segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Receita

Recomendação médica:
1- "Você tem que acreditar em mim, nas pessoas! Vem, anda até aqui, mas com o pé todo no chão!"
2- "Só você sabe o que passa. Só você sabe se dói ou não. Então, fala, me diz."

Caminhei.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Peito Vazio
Cartola e Elton Medeiros

Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

José, pra onde?

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

sábado, fevereiro 17, 2007

Vivo

"Impuro, imperfeito, impermanente
Incerto, incompleto, inconstante
Instável, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui
(...)
Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:
Eis aqui um vivo
Eis me aqui"

Um vivo que vive a despertar aversão. O amor já não lhe quer, amizade é passageira, os carinhos apodrecidos .
Vivo? Morto-vivo. Parasita de sentimentos alheios que nunca serão seus. Nunca! Não há espaço!
Como viver? Viver sem amor? Não é pior que viver sem a perspectiva de um amanhã? Os dois não acabam sendo um só?
Então me distraio com uma faca nas mãos, que sem querer escorrega e me corta um dos dedos. Essa dor é menor que uma topada na cadeira, que é maior que a dor da solidão. Não temo a solidão. Temo a falta dele... Dele que volta... Dele que não me quer.
Vou procurar a distração nas folhas dos livros que não me apetecem, na televisão nojenta, nas noites insólitas. Na verdade é tudo uma grande fuga e me dou conta disso quando sinto as lágrimas derramarem ao presenciar um abraço.
Não, não é fuga. Só as vezes.
Eu sou vulnerável. Fraqueza facilmente atingida, humilhada, ferida.
Esse ser inconstante, instável, imperfeito tem pureza notada na transparência e na sinceridade.
Enfim, já deu raiva. Pro vivo continuar vivo, por Shakespeare, o ser é uma megera que precisa ser domada.